"Vai
demorar para os brasileiros desvincularem a Copa do Mundo da
desencarnação de Chico Xavier, o médium mais conhecido do
Brasil."
Izabel Vitusso
"Quero
morrer num dia em que o Brasil esteja feliz". Seu desejo foi
atendido: enquanto o Brasil ainda comemorava o pentacampeonato, em
junho de 2002, Chico Xavier serenamente partia para o lugar de
origem. Ele era assim: simplicidade, com desejo de servir e não ser
servido.
Embora o culto à personalidade não faça sentido para a
doutrina espírita, as histórias que ocorreram em torno do Chico
Xavier irão atrair sempre a atenção, pela beleza das ações, que
só espíritos com sua categoria são capazes de realizar. São
exemplos para serem absorvidos, não cultuados. Por essa razão, o
cirurgião plástico paulista Dr. Oswaldo de Castro, 82
anos, que conviveu estreitamente com Chico, em Uberaba, conta com
detalhes fatos de sua convivência com o médium.
P:
- O senhor é de São Paulo. O que aconteceu que o fez conviver com o
Chico?
R:
-
Sou filho de dentista, e desde cedo desenvolvi habilidades da
profissão com meu pai. Em 1948 ingressei, em Araraquara, na
Faculdade de Odontologia. Porém, tinha em mente fazer o curso de
medicina. Em casa éramos católicos. Fazia dois anos que eu havia me
formado e minha mãe foi visitar uns tios no interior e, por
curiosidade, ao conversar com um senhor que lia sorte, ela
mostrou-lhe uma foto minha. Ele olhou e disse que eu estava na
carreira errada. Mas eu não acreditava, não era espírita.
Em
contato com o médico e dentista Dr. Laet Toledo César – quem
trouxe a técnica de medicina para a odontologia – e com quem
aprendi muita coisa da medicina, resolvi fazer o curso.
Eu
tinha um assistente aqui em São Paulo formado em Uberaba, que
sugeriu que a faculdade de lá convidasse o prof. Laet e eu para
fazermos demonstrações, em cirurgias de lábio leporino.
Getúlio
Vargas acabou fundando a faculdade de medicina lá, eu prestei
vestibular e entrei. Quando voltei para casa – por esse motivo
acabei me tornando espírita – uma tia, católica, que tinha
mediunidade [ostensiva] transmitiu a mim uma mensagem de um espírito
que rendia graças a Deus por eu ter ido a Uberaba, dizendo ser lá
meu lugar.
Quando Chico mudou-se para Uberaba, em 1959, eu já estava
no sexto ano [do curso de Medicina].
P:
- Como então o senhor conheceu o Chico?
R:
-
Quando eu estava no quarto ano de Medicina, já era casado. Quando
meu primeiro filho Max estava com 2 anos, começou a manifestar a
mediunidade. Eu não tinha amizade com o Chico, mas ele estava lá
hospedado com o Waldo [Vieira] antes de se mudar. Pensei. Bem que o
Waldo podia passar para dar um passe no menino. Eles apareceram. Foi
dado o passe e constatada a mediunidade. O espírito parou de atuar
no menino e atacou a minha esposa.
Na
época, eles já tinham cercado o terreno para fazer a Comunhão
Espírita ao lado. Chico disse: "vai abrir o centro e assim que
começar a sessão de desobsessão, vocês estão convidados."
Participei com minha esposa desde o início, até retornar para São
Paulo. Quando acabei a faculdade, voltei, mas ia sempre para Uberaba
operar.
P:
- O senhor foi médico do Chico?
R:
-
Eu o tratava com homeopatia. O médico do Chico era o Eurípedes
Cahan, muito meu amigo. Ele clinicava nos Estados Unidos. E tem um
fato interessante que ocorreu. Certa feita, ele e o Waldo, levaram o
Chico para Inglaterra e Estados Unidos, com a finalidade de difundir
o Espiritismo. Ao saírem pelo centro de Nova Iorque, um senhor
porto-riquenho bateu nas costas do Chico, falando em sua língua que
sua mulher estava muito mal. Chico tomou nota do endereço, dizendo
que no dia seguinte estaria lá.
A mulher estava obsidiada. Com o
passe dado, o ambiente ficou todo perfumado e a água fluida,
leitosa. Chico falou em castelhano fluente. Eurípedes disse: "que
negócio é esse de falar castelhano?". Chico explicou: "Não
fui eu, foi a avó dele quem falou."
P:
- O senhor conhece fatos ainda inéditos sobre o Chico. O que lembra
para contar?
R:
-
O caso da peruca.
Existem
fatos que, pela modéstia do Chico, são mal interpretados. O
potencial mediúnico dele é imenso. Seu campo vibracional e de
sensibilidade era extraordinário.
Muitas
pessoas disputavam com ciúme o convívio com ele. Ele ia fazer
peregrinação, uns queriam pegar no braço de cá e outro no de lá.
Ele, muitas vezes recebia fluidos terríveis. Ele resolveu colocar a
peruca para evitar que tocassem em sua cabeça, onde tinha maior
sensibilidade. Ele não tinha vaidade nenhuma.
Sua
estada em Pedro Leopoldo-MG.
Chico
era funcionário do ministério da Agricultura em Pedro Leopoldo. Dez
anos antes de ele se mudar de Pedro Leopoldo para Uberaba, isso o
Chico me contou, ele foi ate lá para uma exposição de gado. Quando
chegou, um espírito falou "um dia você vai vir para cá",
mas o Chico não levou a sério. Ele sofria uma perseguição muito
grande da imprensa, do clero em Pedro Leopoldo. Existia um frei,
Boaventura, que fazia campanha muito grande contra o Espiritismo e
certa vez ele foi a Pedro Leopoldo procurar o Chico. Ficou mais de
duas horas trancado, conversando, tentando convencer o Chico que, a
troco de muito dinheiro, relegasse Espiritismo. O Chico disse que
estava muito feliz com o plano espiritual.
Waldo
Vieira aparece para o Chico
Todo
mundo conhece a história do Chico que via a mãe em espírito, no
fundo do quintal, assim que ela desencarnou.
Certa vez, ele me
confidenciou que não era só sua mãe que aparecia, mas outras
entidades. Via Waldo Vieira também. Em uma de suas encarnações, na
Espanha, o médium Waldo Vieira [que trabalhou mediunicamente com o
Chico] foi seu filho e foi levado por um circo que percorria o país,
quando tinha uns 6 anos. Chico disse que chorou muito, mas era muito
pobre e tinha dificuldades para procurá-lo. "Fiquei vinte anos
procurando o menino; quando eu consegui localizar o circo, me
disseram: seu menino foi morto há doze anos."
Quando
ia brincar com meninos no primário, Waldo aparecia para mim e me
avisava "não brinca com esse menino, que ele não te serve".
Certamente Emmanuel estava por trás mais não aparecia. Certa vez,
Waldo se apresentou e disse: "Chico, eu vou me despedir porque
preciso reencarnar. Não saia de Pedro Leopoldo que um dia eu venho
te buscar, mas o Emmanuel vai continuar". Chico dizia que
Emmanuel nunca lhe havia dito onde Waldo havia reencarnado.
Nascido
em Monte Carmelo-MG, Waldo foi orientado por uma médium
extraordinária para que fosse estudar em Uberaba, que lá muita
coisa iria se desencadear. Acolhido pelo professor Mário Palmélio,
teve estudo e moradia de graça. Ele era inteligente e estudioso. Fez
o ginásio, o científico.
Conhecia a doutrina, mas ainda não havia
tido contato com o Chico. Quando eu fui prestar vestibular em
Uberaba, Waldo fazia o último ano de odontologia, enquanto o Chico
era perseguido em Pedro Leopoldo, e ficava apreensivo pelo trabalho
de receituário que realizava.
P:
- O senhor sabe como ocorreu o encontro entre Chico e Waldo Vieira
nesta encarnação?
R:
-
Ao encontrar pela primeira vez o Waldo, Chico ficou emocionado, mas
não disse nada. Passado um ano, Waldo Vieira foi visitar o médium em
Pedro Leopoldo, encontrando-o em sofrimento, com repercussões na
saúde. Chico não podia continuar mais ali. Disse, então: "Chico,
eu vim te buscar. Você vai para Uberaba". Quando ele falou
isso, os dois choraram emocionados!
P:
- O Chico chegou a comentar por que Waldo Vieira não continuou com
sua tarefa no mandato mediúnico?
R:
-
Chico nunca comentou muito a respeito. Dizia apenas que Waldo, quando
foi para os Estados Unidos, caiu numa personalidade do passado e
deixou completamente a doutrina. Sua mediunidade era extraordinária.
Depois que chegávamos da peregrinação, eram realizados trabalhos
mediúnicos e me lembro do fato do Chico e Waldo receberem um soneto
em parceria. Enquanto uma parte era psicografada por Waldo, o Chico
ficava parado, depois, alternavam.
A psicografia de um completava a
do outro. Também, quando Chico estava para mudar, ele escreveu
Evolução em dois mundos. Um capítulo ele recebia, de André Luiz,
lá em Pedro Leopoldo e outro, Waldo Vieira recebia em Uberaba.
Casos
com o Waldo Vieira.
Certa
vez, diante da fila que se formava em frente à Comunhão Espírita
Cristã para recebimento das cestas de alimento, Waldo me disse que
tinha tido um sonho. "Eu vi todo esse pessoal aqui na fila, mas
nós estávamos fardados."
O
entendimento desse sonho vem através da explicação do Dr. Bezerra
[de Menezes], que havia lhe dito que lá pelos anos 60, 70 D.C.,
Eurípedes Barsanulfo era general e perseguidor do Cristianismo e o
Waldo também. Eurípedes se converteu ao Cristianismo, chegou para
as tropas e disse: "em nome de Jesus Cristo, deponham suas
armas." O Waldo foi o primeiro.
Eurípedes, através de
reencarnações, foi reunindo aquelas vítimas, que acabaram por
reencarnar em Sacramento [MG], onde ele nasceu e desencarnou cuidando
de todos até o fim, vitimados pela gripe espanhola. Bezerra diz que
Eurípedes Barsanulfo, para ser um Eurípedes Barsanulfo demorou mil
oitocentos e tantos anos, (não me lembro quanto). Eurípedes,
querendo ou não, teve a rua com seu nome.
"A praça de guerra
de Eurípedes se transformou em praça da caridade" – fazendo
referência ao nome da rua Professor Eurípedes Barsanulfo, onde fica
a Comunhão Espírita Cristã. Chico disse que Eurípedes é tão
humilde que não se deixa aparecer. "Eu sei que ele nos ajuda."
P:
- Foi o senhor quem operou o Chico?
R:
-
Chico tinha um problema de saúde e precisava ser operado. Bezerra
havia dito que caberia a ele escolher quando. Chegando de viagem, da
Inglaterra, Chico me disse que iria fazer a cirurgia e que eu tinha
que estar nisso. Perguntei: "por que eu"? Não sou
urologista (ele tinha um problema da próstata que estava judiando
muito).
Organizei a equipe, disse que era para uma pessoa que eu
queria muito bem, mas não revelei quem seria operado. Falei com um
amigo: Américo Zopi, que me lembrou que eu poderia falar com outro
amigo, urologista, Levi.
Chegamos
ao Hospital Santa Helena [em São Paulo], onde eu operava e, no
portão, Chico disse: "André Luiz está me falando para não
deixar dar adrenalina para mim que vai fazer mal".
Chico ficou
internado no 7.º andar, no quarto 72.
Isso foi no dia 29 de agosto
de 1968. Instalado, ele começou a dar notícias dos aparelhos
espiritualmente instalados nos cantos do quarto. Disse serem
resultantes das preces feitas em benefícios dos doentes internados
lá antes.
"É para esterilização do ambiente", explica
Bezerra. Também comentou que foi levado a conhecer o trabalho que se
realizava espiritualmente, no subsolo para socorro dos espíritos que
desencarnavam naquele hospital, antes de seguirem para outros planos.
Segundo o Bezerra, aquela instituição tinha um carinho especial da
espiritualidade, pelo trabalho de assistência social que realizava.
Pertencia à Fundação que também fundara o hospital Alemão, hoje
Oswaldo Cruz.
Quando
o Chico foi para a sala de operação, saiu na maca e fez sinal de
despedida, sorrindo.
No
pós-operatório, falou que já não era ele. "A Meimei me tomou
o corpo 48 horas, até passar o pós-operatório." Também no
pós-operatório, deu-se a entender que os espíritos faziam fila
para cumprimentá-lo. Ele estava tranqüilo e de repente dizia: "Ah!
Auta de Souza! E na seqüência, dizia outros nomes." Vendo que
se tratava do Chico, o paciente a ser operado, o Levi disse: "você
não é o Xavier?" Chico respondeu daquele seu jeito: "É...
seu criado..."
Quando
estava terminando a operação, surgiu a dúvida de quem iria operar
a hérnia estrangulada do Chico [em decorrência das garfadas na
barriga, que levara, quando criança da madrasta]. Eu pensei, bem que
o Américo Zopi podia estar aqui. Ele entendia e operava muito bem.
De repente, ele entrou sem ser chamado, dizendo: "precisam de
ajuda aí?" Terminada a cirurgia, eu fui acompanhá-lo até o
quarto.
Nena, Galves, [amigos íntimos do médium, fundadores do
Centro Espírita União em São Paulo], minha esposa, Terezinha,
ficaram em vibração e quando eu disse que o Américo é quem havia
operado a hérnia, Nena disse que já sabia: "um espírito
passou por aqui e nos avisou."
Quando
teve alta, para não magoar ninguém, já que só avisaram sobre a
sua cirurgia depois de terminada, ele quis visitar uma pessoa não
espírita, para não gerar ciúme.
Foi visitar a Tarsila do Amaral. A
artista, que pintava sentada em uma cama alta, disse ao Chico que o
dia em que ele recebesse o título de cidadão paulistano, ela
estaria presente numa cadeira de roda. Mas não deu tempo. Desencarnou. Quando Chico recebeu o título, ele a viu presente
espiritualmente na cadeira de rodas.
Chico
foi um verdadeiro apóstolo!
Entrevistado:
Dr. Oswaldo de Castro, Médico de
Chico Xavier
Fonte: Correio Fraterno
Fonte da imagem: Internet Google